quinta-feira, 30 de maio de 2013

UE chega a acordo sobre nova política de pescas



Parlamento, Conselho e Comissão resolvem principais pontos de conflito em reforma que promete tornar a actividade sustentável.



Nelson Garrido


A União Europeia chegou a um acordo, nesta quinta-feira, sobre a reforma da política comum de pescas, que promete pôr fim à sobreexploração de recursos e tornar o sector mais sustentável, em termos ambientais, sociais e económicos.
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A nova política ainda deve passar pelo crivo final dos governos e dos eurodeputados. Mas, numa reunião que se estendeu pela madrugada, a Comissão, o Conselho e o Parlamento europeus resolveram os pontos de maior conflito, abrindo caminho a que o novo quadro para as pescas na Europa seja finalmente aprovado e entre em vigor em Janeiro de 2014.
Um dos aspectos centrais que fica desde já resolvido é o da proibição das rejeições de peixe capturado nas redes, mas que não interessa aos pescadores ou não pode ser pescado. A ideia da proibição era consensual, mas havia detalhes a acertar entre o Conselho e o Parlamento. Com a nova política, todos os peixes terão de ser trazidos para terra, já a partir de 2015. Mas haverá excepções.
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Um dos efeitos da medida para Portugal poderá ser a valorização de peixes que hoje são pouco consumidos – como a tainha do alto ou a boga. Mas os pescadores criticam a medida, considerando-a inútil e contraproducente.
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O Parlamento cedeu às posições do Conselho quanto aos detalhes da proibição das rejeições, mas obteve o acordo de que a distribuição das chamadas “oportunidades de pesca” entre os países terá de seguir critérios transparentes, de cariz ambiental e social. “Esta era uma das principais reivindicações das organizações não-governamentais”, afirma Gonçalo Carvalho, da PONG-Pesca, uma plataforma de associações portuguesas em torno do tema das pescas.

Um dos principais objectivos da nova política é acabar com a sobrepesca, um problema que afecta 75% dos stocks de recursos marinhos na Europa. Mas havia um diferendo entre o Conselho e o Parlamento sobre o calendário de recuperação dos stocks, até a um nível acima daquele que permita o “rendimento máximo sustentável” da pesca. Segundo o acordo agora conseguido, a meta será 2020, com 2015 como uma data intermédia, "onde for possível”.
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A reforma da política das pescas não tem sido pacífica entre os diferentes Estados-membros. Há duas semanas, os ministros europeus aprovaram um mandato para que a Irlanda – que detém a presidência rotativa da UE até ao final de Junho – pudesse conduzir as negociações finais com o Parlamento.
O resultado da reunião que terminou esta madrugada implica alterações às posições aprovadas pelos governos, mas é pouco provável que o assunto volte a um conselho de ministros europeu. “Ninguém quer voltar ao Conselho para negociar outro mandato”, disse o ministro irlandês da Agricultura, Alimentação e Pescas, Simon Coveney, numa conferência de imprensa. “Como um pacote, estou confiante de que [a nova política] será aprovada”, completou.

 

domingo, 19 de maio de 2013

Vinhos portugueses lançam-se à conquista do mundo atentos ao preço




 
Concurso Nacional de Vinhos quer contribuir para aumentar a visibilidade externa.
Mais de mil vinhos e dezenas de provadores estrangeiros. Pela primeira vez o Concurso Nacional de Vinhos realizou-se com o propósito declarado de piscar o olho aos principais mercados de exportação, tendo contado, por isso, com a participação de jurados oriundos de vários países. Especialistas no sector, mas sobretudo influentes críticos e fazedores de opinião que são, como é sabido, o melhor veículo para levar a mensagem até ao consumidor final.
Apesar de os números não serem ainda de molde a impressionar, tanto produtores como as autoridades do sector acreditam que há espaço e caminho para fazer crescer as exportações. Num mercado onde o crescimento tem sido dominado pelos produtores de fora da Europa, Portugal registou um crescimento sustentado nos últimos três anos, tanto em valor como volume de vendas. Outro aspecto a ter é conta é o que resulta do facto de o nosso país ser agora o 10.º país no ranking de exportações de vinho, sendo o 12.º produtor a nível mundial.
O grande problema é que as exportações, sobretudo nos vinhos de mesa, assentam ainda numa estrutura de baixos preços. É que enquanto o vinho francês é exportado por um valor médio por litro acima dos seis euros, os vinhos portugueses não chegam sequer ainda aos 1,5 euros, abaixo de países como Nova Zelândia, Chile ou África do Sul (ver infografia).
Apesar de tudo a tendência tem sido de crescimento, embora muito ligeiro, mas ao contrário daquilo que se passa com a generalidade dos produtores europeus, com excepção da França. Na vizinha Espanha, que se tornou no segundo exportador mundial, ultrapassando a França e só atrás da Itália, o preço por litro parece cair nos últimos anos na proporção em que aumenta o volume de vendas.
Quer isto dizer que os espanhóis necessitam de vender uma cada vez maior quantidade de vinho ao exterior para arrecadar o mesmo nível de receita.
Um fenómeno que se reflecte também nas nossas vendas para o país vizinho. Nos últimos três anos a exportação de vinho português para Espanha mais que quintuplicou (de 43.771 para 229.375 hectolitros, ao mesmo tempo que o preço caía de 2,64 euros para apenas 88 cêntimos por litro). Trata-se sobretudo, como está bom de ver, da venda de vinhos de granel, que os agentes do sector querem ver cada vez mais restringida em favor dos vinhos engarrafados de qualidade, sobretudo os de denominação de origem protegida (DOP).
É neste tipo de vinhos que assenta a promoção internacional, com resultados que se têm revelado bastante satisfatórios. Nalguns mercados os valores/litro aproximam-se até dos vinhos da França e da Nova Zelândia, que são os mais valorizados no mercado internacional, e ultrapassam até os valores médios da Itália.

Oriente a crescer
Muito estimulante é olhar para o que se passa com a exportação de vinhos DOP portugueses para o Oriente, onde atingem já hoje valores muito interessantes. O mais alto (6,85 euros/litro) verifica-se em Hong-Kong, logo seguido por Macau (5,15) e China (4,26).
Se a isto associarmos o potencial de crescimento que esta região representa, então forçoso será concluir que o futuro se apresenta como prometedor para os vinhos de qualidade produzidos no nosso país. Entre os cinco destinos que mais valorizam os vinhos DOP, seguem-se a Alemanha (3,67 euros/litro) e a Áustria (3,33).
Por quantidades exportadas, os EUA lideram a compra de vinhos DOP, seguindo-se Angola, Alemanha, França e Brasil.
É sobretudo neste tipo de vinhos que tem consistido a aposta de promoção da associação interprofissional do sector vitivinícola, a ViniPortugal, entidade que organizou o Concurso Nacional de Vinhos que decorreu ao longo desta semana.

Além de dar a provar centenas de vinhos aos jurados que vêm dos principais mercados, a ideia passa também por dar mais visibilidade externa aos vinhos, como explicou o presidente da ViniPortugal, Jorge Monteiro. Em paralelo com o concurso, os jurados internacionais tiveram também oportunidade de participar eventos especiais dedicados a vinhos Alvarinho, Touriga Nacional e ainda outro apenas com vinhos portugueses com idade. Visitaram também produtores de zonas menos conhecidas como a Vidigueira ou Serra da Estrela.
O concurso contou com o número recorde de 1004 vinhos em prova, a maioria tintos, que teve também a novidade de terem desta vez participado a generalidade dos grandes produtores nacionais.
Os mais de 30 jurados estrangeiros, provenientes de nove países, fizeram parte do júri que durante quatro dias analisou e classificou os vinhos, atribuindo as habituais medalhas de bronze, prata e ouro.
Coube depois ao grande júri, presidido por Luís Lopes, director da Revista de Vinhos, e constituído ainda pelos especialistas Tom Firth (Canadá), Mary Ewing Mulligan (EUA), Jorge Carrara (Brasil), e David Schwarzwalder (Alemanha) seleccionar os grandes medalhas de ouro (apenas de entre os vinhos anteriormente classificados com o grau Ouro). Destes, sai o vencedor absoluto.
Os prémios só serão anunciados no próximo dia 7 de Junho, numa cerimónia a ter lugar no lisboeta Pátio da Galé, onde a ViniPortugal espera contar com algumas das mais altas figuras públicas.


quinta-feira, 2 de maio de 2013

BCE baixa taxas de juro para 0,5%

É a primeira alteração de taxas desde Julho de 2012. Draghi tenta reanimar a economia.

Mario Draghi, presidente do BCE DANIEL ROLAND/AFP


O Banco Central Europeu decidiu nesta quinta-feira, pela primeira vez desde Julho do ano passado, baixar a sua principal taxa de juro de refinanciamento, de 0,75% para 0,5%. Este é o novo mínimo histórico desde a criação da autoridade monetária europeia, em 1999.
Mario Draghi e os seus pares tentam deste modo criar mais estímulos à actividade económica, num cenário em que a zona euro se encontra, desde o final do ano passado, em recessão.
A descida da taxa de referência do BCE permite que os bancos comerciais da zona euro consigam obter fundos junto do banco central a um custo mais reduzido. Para as famílias e as empresas, o impacto positivo mais imediato pode vir de uma descida das taxas Euribor, que servem de indexante para a grande maioria dos empréstimos realizados em Portugal. No entanto, é necessário levar em linha de conta que, nas últimas semanas, as taxas Euribor já tinham registado uma evolução que antecipava a decisão agora tomada pelo BCE.
De facto, o presidente do BCE já tinha assinalado, a seguir à reunião do mês passado, a intenção do banco central agir para contrariar uma conjuntura económica negativa, em que a taxa de inflação está a caminhar para valores abaixo do limite imposto pelos estatutos do BCE.
Mario Draghi irá, ao início da tarde de hoje, explicar esta decisão em conferência de imprensa. Os responsáveis máximos do BCE reuniram-se hoje em Bratislava, numa das duas reuniões anuais que não se realizam na sede do BCE, em Frankfurt.
Existe ainda uma forte expectativa em relação ao que irá ser dito por Draghi em relação a medidas não convencionais, ou seja, que vão além da simples descida dos juros. Cada vez mais analistas – e mesmo alguns dos principais responsáveis do BCE – têm vindo a alertar para a reduzida eficácia que uma descida da taxa de juro do BCE pode ter no actual cenário. Apesar das taxas já estarem há muito tempo a níveis historicamente baixos, as empresas e as famílias europeias continuam a ter um acesso limitado a crédito barato, principalmente nos países denominados como periféricos. É este o caso de Portugal.
 
in Jornal Público, 2 de Maio de 2013