Em Portugal, o tratamento dos terrenos que serviram para
explorar urânio a céu aberto tem-se arrastado. Este é apenas um dos argumentos
que António Minhoto, antigo mineiro e dirigente da Associação de Zonas
Uraníferas (AZU), utiliza para contestar a exploração mineira do outro lado da
fronteira.Mas há mais: a viabilidade económica dissipa-se quando se
tem em conta o custo de intervenção nos terrenos depois de encerrada a mina,
defende. “Depois fica uma situação por resolver em termos ambientais”, com
“impacto nos recursos naturais e nas pessoas”, explica ao PÚBLICO.
Por isso foi
a Retortillo, para dizer que a exploração de urânio “foi um erro em Portugal e
será um erro em Espanha”. Desde 2001 que a Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM)
ficou com a tarefa de realizar a intervenção ambiental nas antigas explorações
mineiras portuguesas.
Até 2017 tinham sido tratadas 56% das minas e gastos 49
milhões de euros nesse processo. Faltavam ainda 20 das 61 minas que representam
risco ambiental, num calendário que prevê trabalhos até 2022, referia a EDM ao
PÚBLICO em Fevereiro do ano passado.Já depois disso, a empresa estatal apresentou o projecto de
recuperação das minas do Mondego Sul, no concelho de Tábua (Coimbra).
Os
terrenos de onde se extraiu urânio entre 1987 e 1991 ficam perto da aldeia de
Ázere, em plena faixa de protecção da barragem da Aguieira, e eram apontados
por António Minhoto como uma das zonas críticas. A EDM previa que os trabalhos
que envolviam a eliminação dos “factores de risco que constituam ameaça para a
saúde e segurança das populações” começassem ainda em 2017 e fossem até 2019.
Obras ainda não arrancaram
Apesar do anúncio da recuperação da velha mina do Mondego
Sul em Março de 2017, o activista lamenta agora que as obras que prevêem o
acondicionamento, estabilização e selagem das escombreiras da antiga exploração
e cujo custo ascende a 5,4 milhões de euros não tenham ainda arrancado.Outro dos pontos mais sensíveis era a mina da Quinta do
Bispo, já no concelho de Mangualde, distrito de Viseu.
Nesse caso, o dirigente
da AZU faz notar a proximidade a um afluente do rio Mondego, bem como a
populações e a zonas agrícolas. “O impacto negativo deixado pela exploração”
permanece à vista, afirma. Sobre esta situação diz que há um impasse, uma vez
que não se conhece o calendário. Mas há minas que já sofreram intervenções significativas.
Entre trabalhos de maior dimensão estão os da Urgeiriça, em Canas de Senhorim,
e da Cunha-Baixa, em Mangualde. Só a reabilitação ambiental das antigas minas
da Urgeiriça, que estão encerradas desde 1999, custou 33 milhões de euros.
Mineiro entre 1976 e 1989, António Minhoto luta agora pela
recuperação ambiental das minas de urânio e pelos direitos dos seus antigos
trabalhadores. “Está mais que evidente que a exploração de urânio é negativa”,
resume.
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